quarta-feira, 28 de maio de 2014

É TUDO TÃO CALMO (Boven is het stil, 2013)


Título Original: Boven is het stil
Ano do lançamento: 2013
Produção: Holanda
Gênero: Drama
Direção: Nanouk Leopold
Roteiro: Nanouk Leopold

Quando acabei de assistir "Tudo é Tão Calmo", fiquei parado na frente da minha TV, tentando descobrir se tinha amado ou odiado o filme. Tomado por uma lentidão fora do comum, a história não narra muita coisa, mas revela muito mais do que imaginamos num primeiro momento.
A cineasta NanoukLeopold nos apresenta Helmer, homem de aproximadamente 50 anos (Jeroen Willems, que faleceu pouco antes da estreia do drama e era homossexual assumido) e seu velho e frágil pai (Henri Garcin), de quem cuida, dá banho e alimenta. Eles, no entanto, não mantêm uma relação muito afetuosa devido a algo ocorrido no passado. Para o filho, tais tarefas são totalmente desagradáveis. Deseja que o ancião morra logo, e por diversas vezes deita ao seu lado e o assiste dormindo, verificando a forma como respira, SE respira. Querendo deixar o pai o mais distante possível dos seus olhos, o acomoda no quarto de cima da casa, lhe fazendo visitas somente nas horas das refeições ou para perguntar se deseja algo. O velho não consegue se levantar, fica todo o tempo na cama.
Vivem em uma espécie de sítio exilado de tudo, onde Helmer é dono de 30 vacas e algumas ovelhas. Recebe quase todos os dias a visita de um leiteiro que sente atração por ele. Em nenhum momento consegue dizer sobre seu interesse a Helmer, mas a forma como se aproxima e olha para o outro deixa tudo explicado nas entrelinhas. Aliás, a película tem pouquíssimas falas. As que existem não revelam muita coisa, a informação necessária está mesmo nas ações. São pessoas que não conseguem se expressar, e, quando quase tomam coragem para fazê-lo, desistem da iniciativa em cima da hora. O jogo se firma na maneira como se olham, nos risinhos tímidos, nessa aflição tão intensa que chega a transbordar – o trabalho de interiorização dos atores é algo incrível e com certeza o ponto forte da exibição. É tudo tão presente que um simples gesto se torna forte, grandioso.
Certo dia, um jovem chamado Henk (Martinjn Lakemeier) surge e pede por emprego. Helmer o abriga, mas mais uma vez a comunicação entre os personagens fica pendente. Mal “bom dia” trocam, se dirigindo rapidamente aos seus afazeres. Ao término da jornada de trabalho, se recolhem, cada um para seu quarto, e se despedem com um curto “boa noite”. A cena mais bonita de todo o filme na minha opinião, por assim dizer, acontece entre os dois. Não direi qual é aqui para não estragar a surpresa, mas vocês saberão quando assistirem. Trata-se de algo delicado e angustiante, de apertar o coração do público.
Durante todo o filme, a palidez das cores predomina. A solidão é muito bem retratada nos tons pálidos, nos nevoeiros e serenos campestres, na brisa vagarosa que embala a plantação âmbar-sufocante promovida por um sol igualmente acanhado. Na última cena, o astro-rei invade novamente a tela, mas modificado, revelando um suposto dia firme. A timidez permanece lá, mas o sorriso dessa vez é um pouco mais aberto e direto. 
"Tudo é Tão Calmo" essencialmente fala sobre alguém que está prestes a morrer, sobre alguém que quer viver e sobre alguém que ainda não aprendeu a viver, e como a falta de destemor pode afetar pessoas a serem felizes.

NOTA DO CLUBE: 9,0/10




Um comentário: